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Red Carpet: por que o tapete vermelho virou plataforma de posicionamento político

Patricia Sant'Anna

No último final de semana começou a temporada 2019 de Red Carpets. Para o universo da moda, sempre foi importante acompanha-los porque ali temos as referências mais contemporâneas para o que chamamos de “moda festa”. Isto porque os tapetes vermelhos, são um momento em que artistas, celebridades, formadores de opinião e influenciadores dão acesso aos seus fãs e seguidores de como será o evento que vão participar.



Nas últimas duas décadas, a importância e a visibilidade do momento Red Carpet se ampliou tanto que hoje, praticamente qualquer evento coberto pela mídia tem em sua organização esse momento. Isso o transformou de tal maneira que hoje é quase um evento a parte, com cobertura própria. O foco desta cobertura é comentar sobre a aparência das pessoas, portanto, toda a indústria da moda (vestuário, calçados e acessórios), joalheira, beleza etc. estão presentes ali em peso para divulgar seus produtos e soluções sobre os corpos de quem é convidado para um evento desse porte.



A importância e a visibilidade do momento Red Carpet se ampliou tanto que, hoje, praticamente qualquer evento coberto pela mídia tem em sua organização esse momento.



Marketing


Sem dúvida, marcas que aparecem no red carpet ganham visibilidade, sobretudo se esse corpo é de alguém candidato ao prêmio em questão, ou é homenageado, ou ainda é alguém em franca ascensão no meio. Alguns exemplos recentes e bem legais para pensarmos sobre isso:


Angelina Jolie, red carpet Oscar de 2004

No ano de 2004, quando Angelina Jolie foi ao Oscar usando HStern – o imponente colar de diamantes Athena, feito especialmente para ela vestir na noite da premiação –, chamou a atenção das pessoas para a marca de joias brasileira. Nos anos subsequentes tivemos várias outras estrelas do cinema (Liv Tyler, Jéssica Alba, Emily Blunt, Kirsten Stweart, Halle Berry) e da música (Beyoncé) usando joias da HStern. Isso reforça (e garante) a imagem da marca joalheira como referência dentro do mundo internacional das grandes joalherias do mundo.

Helen Hunt, red carpet Oscar, 2013.

Outro exemplo foi quando a gigante varejista de moda sueca H&M conseguiu vestir Helen Hunt, atriz então indicada ao Oscar, em 2013. Hunt preteriu usar grandes maisons de Haute Couture, ou designers jovens e ousados, para usar um vestido feito em escala e que seria vendido em toda a rede varejista. Mas há um porquê dessa escolha, e não foi só a beleza do vestido. Havia também uma motivação de posicionamento: a empresa é parceira com a Global Green, uma iniciativa de reciclagem de roupas. Isso catapultou a imagem da marca e sua sessão de vestidos de festa, e também o posicionamento mais ecológico dentre os grandes varejistas internacionais.



Plataforma de causas


Como vimos no exemplo anterior, o Red Carpet passa a ser um local em que a moda – a aparência que as pessoas estão ali ostentando – fala não só sobre padrões de beleza e elegância, mas também sobre o que estas pessoas acreditam e apoiam.



Um dos primeiros movimentos que vimos surgir no Red Carpet foi o laço vermelho que denota o apoio às pessoas com AIDS.



Rosie Perez, 1995.

Claramente engajada em causas ecológicas, a modelo Gisele Bündchen fez agradecimento via Instagram ao esforço da marca Versace em criar um modelo eco-friendly, em suas palavras, em seu Instagram: 'Obrigada, Versace, por trabalhar tão duro para fazer meu vestido totalmente sustentável. O tecido e forro de seda são 100% orgânicos e ecologicamente tingidos, as linhas são de algodão 100% orgânico e tudo é certificado pela organização GOTS'.


Gisele Bündchen, usa Versace no red carpet do Met Ball, 2018.

Talvez a causa mais notória foi quando no Globo de Ouro de 2018 todas as convidadas foram chamadas a trajar preto para dar destaque ao movimento Time’s up, entidade que havia sido recém-criada por mulheres que trabalham na indústria cinematográfica para lutar contra o assédio e a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho. Quase todas aderiram à causa, e hoje em dia, a presença do broche ou pulseira é visível em diversas profissionais da indústria do cinema.



Viola Davis, Dakota Johnson e Claire Foy no Globo de Ouro em 2018.

Os homens também adeririam:

Na última edição a Time’s Up também teve presença, mas na forma de uma pulseira, usada por mulheres e homens que apoiam o movimento.


Quebra de paradigmas: a diversidade de tipos de beleza e elegância ganha espaço


Hollywood sempre foi multicultural e cosmopolita, porém, se olharmos um histórico de quem já ganhou, ou mesmo, apenas vermos a representatividade das etnias, percebemos que é um mar de gente branca... porém, nos últimos anos isso vem mudando, e a indústria abre espaço para cada vez mais protagonistas afrodescendentes, asiáticos e ameríndios.



Neste último ano tivemos filmes de grande bilheteria com foco em trazer à tona essa diversidade, destacamos aqui Inflitrados na Klan, Pantera Negra e Asiáticos Podres de Ricos que acabou por ampliar a quantidade de afrodescendentes e asiáticos no red carpet do Golden Globe Awards. Que inclusive teve uma apresentadora de origem coreana-canadense Sandra Oh, que também ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Série Dramática.


Chadwick Boseman, Danai Gurira, Lupita Nyong'o e Michael B. Jordan no Globo de Ouro 2019.

Melissa McCarthy, em 2012, revelou ao mundo que, mesmo sendo uma indicada ao Oscar, foi recusada por 5 marcas por não ter o corpo que a indústria da moda julga ser o padrão de beleza. E isso a motivou a entrar no fashion world, e criar uma linha de moda para mulheres plus size.



Melissa McCarthy no Oscar em 2012.

Os protocolos do tapete vermelho vão se tornando mais flexíveis, por pressão das próprias celebridades que passam por ele. Efeitos de um posicionamento feminista que vem se consolidando nesses espaços. Além do Time’s up e do Ask Her More (movimento que provoca os jornalistas a perguntarem às atrizes sobre os filmes, a carreira, enfim, qualquer coisa além de seu vestido, joias, sapatos e corpo), exigem-se outras formas de se vestir que não a tradicional. É o caso das atrizes que tiraram seus saltos e andaram descalças no red carpet de Cannes, como Julia Roberts e Kirsten Stewart. E, nos últimos anos, quando vemos muitas celebridades usando calças, blazer etc. (elementos do guarda-roupa masculino) no lugar dos vestidos de festa.


Julia Roberts em Cannes, 2016.

O Red Carpet nos indica propostas de elegâncias que podem ser tanto tradicionais quanto bastante iconoclastas. Mas, além da quebra de paradigmas em relação à moda e aos corpos que a vestem, o tapete vermelho vai além e se torna cada vez mais uma plataforma para expressão de ideias e manifestação de comportamentos. O alcance dessa plataforma é gigantesco, e se tornou ainda mais exponencial com a internet e suas mídias sociais – não só vemos o red carpet, como também as reações de pessoas do mundo todo em tempo real, enquanto podemos compartilhar as nossas próprias.



Além da quebra de paradigmas em relação à moda e aos corpos que a vestem, o tapete vermelho vai além e se torna cada vez mais uma plataforma para expressão de ideias e manifestação de comportamentos.


Bjork no Oscar em 2001.

Por isso, o tapete vermelho é referência não só para quem está no mercado de moda, mas de qualquer área da economia criativa. Preste atenção no Red Carpet, porque muitas referências, questionamentos e posicionamentos que influenciam e dialogam com seus consumidores estão sendo desfilados lá.

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