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Futuros desejáveis: como construir cenários estratégicos para organizações do Hemisfério Sul

  • Foto do escritor: Tendere Tendere
    Tendere Tendere
  • 22 de jul.
  • 7 min de leitura

Em tempos de transformações aceleradas, instabilidade geopolítica e reconfiguração das relações sociais e econômicas, líderes organizacionais enfrentam o desafio de planejar sob incerteza. A pergunta deixa de ser “o que vai acontecer?” e passa a ser: “como podemos construir futuros desejáveis, possíveis e viáveis a partir da nossa realidade cultural, social e produtiva?”

Essa é uma questão estratégica especialmente urgente para empresas e instituições do Hemisfério Sul, onde os cenários tradicionais do Norte Global nem sempre oferecem respostas adequadas aos desafios locais. Nesse contexto, a pesquisa prospectiva aplicada com métodos estruturados — como Delphi, Cenários de Futuro e o Cone de Futuros — torna-se um recurso poderoso de planejamento.


Pesquisas prospectivas são base para o desenvolvimento de planejamentos estratégicos, políticas públicas e novas soluções criativas que criam os futuros desejáveis.
Pesquisas prospectivas são base para o desenvolvimento de planejamentos estratégicos, políticas públicas e novas soluções criativas que criam os futuros desejáveis.

Do futuro imposto ao futuro construído: o papel da prospecção estratégica

Planejar não é prever. Planejar, especialmente sob incerteza, é criar rotas múltiplas e qualificadas de ação diante de diferentes possibilidades. A construção de cenários prospectivos é, portanto, uma ferramenta para explorar futuros plausíveis e preferíveis — que não apenas possam acontecer, mas que devam ser desejados pelas organizações e pela sociedade (Oliveira et al., 2020).

Trabalhar com futuros desejáveis permite à organização:

  • Antecipar riscos estratégicos e sociopolíticos;

  • Explorar possibilidades tecnológicas e comportamentais ainda emergentes;

  • Alinhar a inovação com valores culturais e transformações sociais profundas.


Três métodos fundamentais para construir futuros com base em pesquisa


Método Delphi

Delphi é uma técnica estruturada de consulta a especialistas, baseada em rodadas de feedback controlado, que busca construir consenso qualificado sobre cenários e possibilidades futuras. Utiliza tanto dados qualitativos (respostas abertas) quanto dados quantitativos (escalas de concordância), sendo, portanto, um método de natureza mista (Massaroli et al., 2017).


"A principal força do método Delphi está na sua capacidade de reunir inteligência coletiva de forma anônimoa, iterativa e orientada à construção de consensos técnicos e estratégicos" (Keeney, Hasson, McKenna, 2011).


É indicado para:

  • Mapeamento de incertezas críticas e pontos de inflexão;

  • Exploração de possíveis estratégias de médio e longo prazo;

  • Priorização de investimentos ou ações em cenários de alta complexidade.



Cenários Futuros (Modelagem Clássica)

A construção de cenários envolve a formulação de narrativas estruturadas com base em variáveis críticas e eixos de incerteza. É um processo que integra análise de tendências, dados secundários, entrevistas com especialistas e lógica prospectiva (Oliveira et al., 2020).

Essa técnica permite modelar múltiplos futuros alternativos, portanto, não é predição, mas como narrativas plausíveis estão se construindo e podem orientar decisões presentes.


Aplicações práticas:

  • Desenvolvimento de estratégias resilientes a diferentes contextos futuros;

  • Simulações de impactos de novas tecnologias ou legislações;

  • Apoio à governança institucional em tempos de transição.



Cone de Futuros (Voros)

O Cone de Futuros é uma representação gráfica e metodológica das diversas categorias de futuro possíveis, plausíveis, prováveis e preferíveis (Voros, 2017; Cone de Futuros, 2020). É uma ferramenta ideal para oficinas participativas e exercícios de imaginação estratégica. Ele organiza a discussão sobre o futuro com base na distância temporal e na probabilidade percebida, permitindo construir cenários com realismo e aspiração.


O Cone é indicado para:

  • Engajar equipes em projetos de inovação orientada por valor;

  • Visualizar futuros setoriais a partir da realidade local;

  • Conectar inovação técnica com impactos sociais desejáveis.


Outras técnicas

Além de Delphi, Cenários de Futuro e Cone de Futuros, há diversas técnicas prospectivas complementares reconhecidas na literatura que fortalecem a triangulação analítica. Por exemplo, o Modelo Diamante de Tendências, de Vejlgaard (2008), mapeia a difusão de inovações por perfis sociais (como trend creators e mainstreamers). Outra ferramenta é a Cross‑Impact Analysis, criada por Gordon e Helmer (1966) e refinada para contextos corporativos e de políticas públicas; ela quantifica e qualitativamente avalia interdependências entre eventos futuros. Também existem métodos como Análise Morfológica, Jogos de Atores e a Análise Causal em Camadas (CLA) de Inayatullah (1998), que permitem explorar diferentes níveis de causas (litânia, sistema, discurso, metáfora). Cada uma dessas abordagens acrescenta uma perspectiva — seja na difusão cultural, na interação de variáveis complexas ou na estruturação de narrativas profundas — tornando o estudo de futuros mais robusto, plural e estratégico para organizações no Hemisfério Sul que precisam navegar incertezas com inteligência e adaptabilidade.


Triangulação como diferencial analítico

Na Tendere, trabalhamos com a articulação entre métodos como forma de triangulação. Cada abordagem oferece uma lente distinta sobre o futuro, por exemplo:


  • Delphi gera consenso técnico estruturado;

  • Cenários revelam narrativas estratégicas complexas;

  • O Cone explicita limites e aspirações do possível.


Combinadas, essas ferramentas permitem que organizações visualizem o que pode acontecer, o que provavelmente vai acontecer — e, sobretudo, o que elas querem que aconteça.


O desafio de se olhar para a diversidade de realidades, culturas e arranjos socioeconômicos em um país do tamanho do Brasil é desafiador para qualquer pesquisa qualitativa. A Tendere consegue com excelencia fazer não só o Brasil, mas a América do Sul, África Subsaarina e Oceania.


Por que o Hemisfério Sul exige futuros pensados localmente?

Compreender a diversidade de realidades, culturas e arranjos socioeconômicos em um país com as dimensões e complexidades do Brasil já é, por si só, um enorme desafio para qualquer pesquisa qualitativa. A Tendere, no entanto, atua com excelência não apenas em contextos brasileiros, mas também em territórios do Sul Global, com experiência consolidada em países da América do Sul, África Subsaariana e Oceania — sempre respeitando as especificidades culturais e estruturais de cada região, e produzindo análises situadas, comparativas e transformadoras.

Organizações do Hemisfério Sul enfrentam desafios históricos e estruturais que não podem ser respondidos com modelos prontos. Desigualdade, inovação informal, criatividade territorializada, tensões políticas e climáticas fazem parte do cenário decisório. Trabalhar com pesquisa prospectiva nesses contextos exige escuta, contextualização e imaginação crítica.


Construir futuros desejáveis é também um ato de soberania intelectual, cultura e econômica.


Planejar com profundidade é liderar com responsabilidade

A combinação entre pesquisa qualitativa e prospectiva permite entender o presente com profundidade e construir futuros com clareza estratégica. Para empresas, governos e instituições que operam em ambientes incertos, essas abordagens ampliam a capacidade de decisão, inovam com sentido e contribuem para soluções alinhadas às transformações sociais, culturais e ambientais em curso.


Empresas como a Ford e a Shell demonstram, em contextos distintos, como o uso de métodos prospectivos e a construção de cenários futuros podem guiar transformações profundas e sustentáveis em seus modelos de negócio. A Ford, a partir de 2015, reposicionou sua identidade estratégica com o plano Ford Smart Mobility, assumindo-se não apenas como fabricante de automóveis, mas como fornecedora de soluções de mobilidade urbana. Essa mudança foi baseada em mais de 25 experimentos globais de mobilidade, alinhados a cenários urbanos emergentes e novas expectativas sociais, permitindo à marca antecipar tendências e lançar serviços inovadores de transporte, conectividade e carros sob demanda.

Pioneira em utilizar a pesquisa prospectiva de maneira contínua para as decisões estratégicas
Pioneira em utilizar a pesquisa prospectiva de maneira contínua para as decisões estratégicas

Por outro lado, a Shell é um dos cases mais históricos e consistentes de uso de planejamento por cenários. Desde os anos 1970, a empresa utiliza cenários estruturados para orientar sua visão de longo prazo — prática que ganhou notoriedade ao permitir que a Shell se antecipasse à crise do petróleo de 1973, minimizando impactos e ganhando vantagem competitiva. A abordagem da Shell inclui cruzamento de dados geopolíticos, ambientais e econômicos, além de consultas a especialistas — sendo hoje referência global em foresight corporativo.

Esses dois exemplos mostram que o planejamento por cenários, aliado à escuta qualificada de especialistas e análise cultural e contextual, não serve apenas para “imaginar o futuro”, mas sim para criar estruturas estratégicas mais ágeis, resilientes e inovadoras, com base em realidades emergentes. Organizações que atuam no Hemisfério Sul — especialmente em mercados complexos e culturalmente diversos — se beneficiam fortemente de metodologias que permitem navegar incertezas com inteligência aplicada.


Comparativo Estratégico: Ford x Shell – Aprendizados em Prospecção e Cenários

Elemento Estratégico

Ford

Shell

Objetivo central

Reposicionar de montadora para um futuro sustentável.

Reduzir riscos em um mercado global instável

Técnicas utilizadas

Cenários urbanos, testes de campo, tendências sociotécnicas

Planejamento por cenários, análise geopolítica e macroeconômica

Método aplicado

Testes prospectivos com base em foresight urbano

Construção contínua de futuros alternativos desde os anos 70

Transformação provocada

Deixar de se pensar como produtora de automóveis, caminhões etc. Mas como uma fornecedora de soluções sustentáveis de mobilidade urbana (consequências: expansão para serviços sob demanda, conectividade, EVs etc.)

Antecipação de crises, maior resiliência estratégica

Foco regional

Mobilidade em cidades globais, com base em dados locais

Energia e clima em escala global, com ênfase em riscos sistêmicos

A construção de futuros desejáveis exige mais do que modelos abstratos — requer escuta qualificada, repertório crítico, domínio metodológico e sensibilidade cultural. A Tendere une esses elementos em abordagens que articulam pesquisa qualitativa e prospectiva com profundidade e precisão. Atuamos com organizações que precisam tomar decisões complexas em contextos reais e diversos, oferecendo estudos sob medida que revelam riscos, oportunidades e caminhos de ação. Se sua organização está pronta para pensar o futuro com responsabilidade, estratégia e visão situada, a Tendere é sua parceira ideal.


Sua organização precisa pensar além da sobrevivência?

Vamos conversar sobre como projetar futuros desejáveis, possíveis e viáveis.



Referências

Gordon, T. J., & Helmer, O. (1966). Report on a Long-Range Forecasting Study. RAND Corporation. Revisado em: https://en.wikipedia.org/wiki/Cross_impact_analysis

Inayatullah, S. (1998). Causal Layered Analysis: Poststructuralism as method. Futures, 30(8), 815–829.Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Causal_layered_analysis

Keeney, S., Hasson, F., & McKenna, H. (2011). The Delphi Technique in Nursing and Health Research. Oxford: Wiley-Blackwell.

Massaroli, A., Martini, J.G., Lino, M.M., Spenassato, D., & Massaroli, R. (2017). The Delphi method as a methodological framework for research in nursing. Texto & Contexto Enfermagem, 26(4), e1110017. https://doi.org/10.1590/0104-07072017001110017

Oliveira, F. M. B., Gonçalves, R., & Vasconcelos, F. C. (2020). Cenários prospectivos: como construir um futuro melhor. Rio de Janeiro: FGV Editora.

Vejlgaard, H. (2008). Anatomy of a Trend. New York: McGraw-Hill.Discussão aplicada: https://www.researchgate.net/publication/362340553(Mapeamento de difusão de tendências – Modelo Diamante)

Voros, J. (2017). The Futures Cone: Use and History. The Voroscope. Disponível em: https://thevoroscope.com/2017/02/24/the-futures-cone-use-and-history/

 
 
 

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