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Cultura de compartilhamento

Vivian Berto de Castro


“Compartilhar” ao invés de “possuir”? Cada vez mais o comportamento do consumo tem se desdobrado nesse sentido, e com isso são criados novos modelos de negócio, produtos e serviços. Sharing economy não é exatamente algo novo: em 2001 foi divulgado pela revista Time como o termo do futuro. Desde então, empresas de grande porte e sucesso como Airbnb e Uber massificaram a ideia, sempre aliada ao digital, de que compartilhar é o melhor negócio.


A cultura do compartilhamento tem crescido e amadurecido muito nos últimos anos. E para onde ela vai agora? Preparamos algumas análises.



O que define a cultura de compartilhamento?


O surgimento de novas empresas – em sua maioria start-ups, unicórnios, revelações do Vale do Silício etc. – com modelos de negócio voltados ao compartilhamento nos últimos anos tem amadurecido o mercado. Hoje, já se podem falar de vários tipos diferentes de empresas baseadas em compartilhamento.



O Uber, Cabify, Lyft e outras tantas empresas de transporte automotivo individual, por exemplo, podem ser classificadas como gig economy. Elas conectam usuários aos prestadores de serviço por meio de uma plataforma digital. Cada vez mais, no entanto, são problematizadas as relações de trabalho entre aplicativo e motoristas. Mas a cultura do compartilhamento vai muito além da gig economy. Existem inúmeras classificações desse universo, mas preferimos ficar com a do Fórum Econômico Mundial, lançada no relatório Collaboration in Cities:


From Sharing to ‘Sharing Economy’ . A economia on demand, ou seja, os apps de streaming (como Netflix e Spotify) também são considerados modelos de negócio de compartilhamento, já que o usuário nunca “possui” as músicas e o audiovisual dos quais usufrui.



Outros modelos são mais focados no usuário. O consumo colaborativo é baseado em produtos e serviços compartilhados – dos quais temos acesso, mas não os possuímos. São exemplos os serviços de aluguel de bicicletas e patinetes, serviços de limpeza (quando o app efetivamente contrata os profissionais, ao invés de só conecta-los aos clientes), dentre outros. A peer-to-peer economy é aquela que conecta um usuário ao outro, oferecendo serviços de um para o outro. Couchsurfing e EasyRoommate, de compartilhamento de casas, e a empresa francesa Blablacar, de caronas, são alguns exemplos.



As empresas de economia colaborativa vão um pouco mais longe que as peer-to-peer: mais do que conectar dois usuários, elas intencionam criar sistemas econômicos internos, como marketplaces. É o caso de apps de reuso de roupas, como Enjoei e Repassa, bons exemplos brasileiros, ou mesmo sites de vendas como Ebay, Mercado Livre e Rakuten. E, por fim, a crowd economy (algo como “economia da multidão”) conecta grupos de pessoas por meio de uma plataforma. O Mechanical Turk da Amazon, por exemplo, conecta empregadores que querem terceirizar serviços a trabalhadores interessados.



O que nos faz compartilhar?


O online é que configura a cultura de compartilhamento do século XXI – plataformas conectam pessoas ao redor do mundo para compartilhar (principalmente a partir de 2013, quando houve um boom). Este é um desejo recente do consumidor que se configura, podemos dizer, por dois motivos bem diferentes.



O primeiro motivo é o da abundância. Comportamentos de consumo ligados à sustentabilidade têm muito a ver com a cultura de compartilhamento – o discurso do “consumir menos” faz com que queiramos utilizar um produto e compartilha-lo. Não é à toa que muitas das soluções contemporâneas sustentáveis venham da Alemanha, país de alto desenvolvimento econômico e classes médias estabelecidas. E do consumo compartilhado também: o país lidera pesquisas de carros autônomos, por exemplo.



Abundância é um dos motivos que nos faz querer compartilhar - por isso, muitas vezes a cultura de compartilhamento faz mais sentido em economias mais desenvolvidas e classes médias estabelecidas.


Outro motivo é quase o oposto da abundância: momentos de crise pedem soluções criativas e, por que não, compartilhadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas mostram que a geração Y é a primeira geração mais pobre que seus pais. Por que não compartilhar um quarto no seu apartamento? Alugar seu carro quando não está usando? Na falta do carro, que tal então “pegar emprestado” uma bicicleta para locomoções rápidas ao invés de investir comprando uma? Tanto do lado de quem oferece o produto ou serviço compartilhado quanto do lado de quem os busca, dividir pode significar gastar menos.



No Brasil, embora os dois casos estejam presentes, o consumo compartilhado está mais ligado à abundância do que à crise. Por exemplo, os guarda-roupas compartilhados, como a Roupateca, e apps de compartilhamento de roupas, como o WeCloset. Usuários que se associam a essas plataformas tendem mais a investir numa auto-restrição do consumo de preocupação sustentável do que não ter efetivamente acesso para comprar as peças.



Para onde vai o consumo compartilhado


Conforme o consumo compartilhado vai se tornando mais sofisticado, novas soluções vão surgindo e cada vez para mercados e nichos mais específicos. A terceira idade é um exemplo. O chamado co-housing (casas compartilhadas) pode ser específico para quem chega na velhice e precisa tanto cortar custos quanto evitar a solidão: o site norte-americano Silvernest é uma espécie de EasyRoomate para idosos, no qual os usuários podem oferecer espaços em suas casas (apenas para outros idosos) ou procurar um cantinho para si na casa de alguém.



Na Australia, os aplicativos de compartilhamento de bicicletas, carros, roupas, alimentos etc. são tantos, e cada vez mais específicos, que um grupo de empreendedores lançou o The Sharing Hub, uma aceleradora exclusiva para empresas de economia compartilhada. Entre as empresas impulsionadas, está a Food by Us, que conecta produtores de comida caseira locais com seus consumidores, pessoas sem tempo ou habilidade para fazer a comida em casa.



Conforme a educação online cresce, não apenas plataformas que funcionam como catalisadoras de cursos de universidades e institutos – como Coursera e edX – angariam cada vez mais estudantes, mas também outras plataformas, como a Udemy, ganham espaço. Na Udemy, qualquer pessoa pode colocar seu curso online sobre os temas mais diversos, de programação Python a gastronomia.


Qualquer negócio hoje pode e deve levar em conta o consumo compartilhado. Com quais oportunidade sua empresa pode jogar na cultura do compartilhamento?

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