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16º Seminário de Tendências: o que moda tem a ver com inteligência artificial?


Fotografia de Manos Agrimakis para a Noise Magazine No26. Joalheria de Maria Mastori.

Na programação de palestras para o 16º Seminário de Tendências - inverno 2021, a equipe multidisciplinar de pesquisadores da Tendere preparou uma seleção de temas, nas áreas de tecnologia, economia/financeiro e artes, pertinentes para entender o futuro. Estes assuntos são alguns dos que estão pautando a sensibilização do consumidor, e precisam ser abordados e discutidos com urgência afim de entendermos o futuro próximo, 2021, em níveis de consumo, comportamento, cenário social, econômico e político, entre outras áreas.



Entrevistamos os pesquisadores que mostrarão estes temas no evento, em posts que sairão toda semana com foco na preparação para o Seminário de Tendências. A princípio, conversamos com Vivian Berto de Castro, produtora de conteúdo e pesquisadora da Tendere para áreas de cultura contemporânea. Vivian Berto é mestre em História da Arte (Unifesp) e graduada em design de moda pela ESAMC, tem grande interesse e pesquisa sobre comportamento e suas consequências estéticas. Leciona nos cursos de Moda e Artes Visuais da FMU/FIAM-FAAM.



Moda e inteligência artificial: os robôs podem se tornar designers?


Inteligência artificial tem sido um dos temas mais debatidos dos últimos anos no universo da tecnologia. Suas inúmeras possibilidades - de aperfeiçoamento da indústria 4.0 aos atendimentos de robôs inteligentes - que prometem revolucionar quase todas as indústrias, inclusive a da moda.



Mas no que consiste, realmente, a “inteligência artificial”? Segundo Vivian Berto, não há exato consenso sobre isso, e mesmo o termo o termo “inteligência” pode trazer uma percepção equivocada. “A ideia da IA é que os sistemas são capazes de aprender muito bem tarefas extremamente especializadas”, explica a pesquisadora. “Gosto do exemplo de Meredith Broussard, docente da New York University, de por que um computador consegue ganhar de um campeão em uma partida de xadrez: ele ganha porque possui uma base de dados de milhões de movimentos do jogo e os ativa conforme a situação. Este mesmo computador não conseguirá utilizar esse ‘conhecimento’ para mais nada, além das partidas de xadrez. E ainda consideramos esse sistema ‘inteligente’ porque, culturalmente, acreditamos que pessoas que jogam xadrez são excepcionalmente inteligentes”. Ainda segundo Berto, “Recentemente ouvi de Sergio Gama, evangelista da IBM, o termo ‘sistemas especialistas’ como um bom substituto para a expressão ‘inteligência artificial’, já que não se trata de inteligência propriamente dita, como o sistema cognitivo humano”, explica.



A ideia da IA é que os sistemas são capazes de aprender muito bem tarefas extremamente especializadas, e não que repliquem o sistema cognitivo humano.


Uma das preocupações mais frequentes acerca dos avanços da inteligência artificial é: e a relação com o mercado de trabalho? Os humanos serão realmente substituídos? “Nas minhas pesquisas, não há consenso dos especialistas da área sobre o impacto, embora algumas indústrias devam sofrer mais do que as outras”, pontua Berto. “Mas podemos pensar sob o viés histórico: por exemplo, desde a primeira Revolução Industrial havia medo em torno da falta de empregos por conta das máquinas. Mas o fator humano é sempre necessário para opera-las. Máquinas nunca funcionarão plenamente sozinhas, não têm essa capacidade. Por isso, temos a perspectiva de que serão criados novos empregos para lidar com essa realidade”. Berto também é cética em relação ao ‘trabalhar menos’ por causa da inteligência artificial, que supostamente faria nossas tarefas mais repetitivas e maçantes no nosso lugar. “Também é um discurso que se repete há muito tempo. John Keynes havia dito que no final do século XX trabalharíamos 15 horas por semana por causa do avanço das máquinas…”, pondera.



E na questão mais importante: como a inteligência artificial reverbera na moda? Segundo Vivian Berto, “Na indústria têxtil-confeccionista, as tecnologias automatizadas já são realidade, mas não de forma tão difundida quanto em outras indústrias. Um dos ‘obstáculos’ é o grande contingente de mão-de-obra barata em alguns países em desenvolvimento: por que automatizar processos já barateados?”. No entanto, a busca cada vez maior do consumidor por transparência e melhores condições de trabalho nos processos produtivos da moda, para Berto, trazem a questão da IA para esses processos, substituindo trabalhadores e deslocando a indústria novamente para o Ocidente. Isso já está deixando alguns países, como Vietnã, Camboja, Bangladesh e Paquistão em estado de alerta. “Um dos ‘robôs de costura’ (máquina Sewbot, desenvolvida por…), fica em Arkansas, nos Estados Unidos. Parece um movimento de reaver a indústria confeccionista para estes países”, acrescenta.



Um dos "obstáculos" para a maior automatização e IA na indústria confeccionista é o grande contingente de mão-de-obra barata em alguns países em desenvolvimento: por que automatizar processos já barateados?


Se os processos mais automatizados podem ser alterados pela inteligência artificial na moda, será que o design, esta característica tão criativa, pode ser também? A resposta é sim! “Já existem inúmeras experiências dentro do campo do design em geral e mesmo na arquitetura. No design de moda, vejo produtos de IA desde o final dos anos 1990 no ambiente acadêmico”, pontua Berto. “O método mais utilizado é o GAN, sigla para generated adversarial networks, no qual a máquina ‘gera’ inúmeras possibilidades de design a partir de uma extensa base de dados e treinamento. Acho muito interessante a troca do ‘designed by’ pelo ‘generated by’”, acrescenta. “Imagine o quanto o auxílio da máquina ajudaria os designers de moda que trabalham em fast fashion ou em outras realidades semelhantes, nas quais é necessário criar inúmeras microcoleções ao longo do ano".



Imagine o quanto o auxílio da máquina ajudaria os designers de moda que trabalham em fast fashion ou em outras realidades semelhantes, nas quais é necessário criar inúmeras microcoleções ao longo do ano.


Mas é claro que o GAN e a moda mais rápida pode matar a criatividade da indústria, certo? Errado. “Para mim, este é o ‘pulo-do-gato da inteligência artificial associada ao design”, aponta Berto. “Artistas e alguns designers de produto ligado ao experimental já utilizam de maneira bem criativa os sistemas gerativos, na maioria das vezes associados à ideia da falha (glitch) da própria máquina. Há inúmeras possibilidades criativas da inteligência artificial; ainda estamos somente arranhando sua superfície”, finaliza.



Moda e inteligência artificial: os robôs podem se tornar designers? Este é o tema da palestra de Vivian Berto no 16 º Seminário de Tendências da Tendere - inverno 2021. Você pode adquirir seu ingresso ainda nos lotes promocionais no link: https://www.tendere.com.br/blog/seminario-de-tendencias-inverno-2021



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